domingo, 1 de maio de 2011

30 anos da covardia do Riocentro

Além de covardes, eles também eram burros...

Pressionada pelas comunidades internacionais, pelas provas irrefutáveis de tortura e assassínio nos bastidores dos serviços de inteligência, a ditadura militar brasileira, desgastada e agonizante, viu-se obrigada a mudar os seus métodos de repressão, oferecendo uma abertura política lenta e gradual, iniciada no fim do governo do general Ernesto Geisel.
Em 1979, o general João Figueiredo assumiu a presidência, herdando o processo de abertura iniciado no governo anterior. Diante do inevitável colapso da ditadura, o principal objetivo do último governo Figueiredo era trazer as tropas que estavam no poder de volta às casernas, sem que se lhe fosse imputadas culpas e responsabilidades pelos danos durante os anos que se mantiveram no poder, salvaguardando que viessem a responder pelas mortes nos seus porões.
Extinto o Ato Institucional nº 5 (AI 5), o processo de abertura tornou-se irreversível. A partir de 1979 os sindicatos tomaram fôlego, as greves por melhores direitos voltaram; o movimento estudantil reconstruiu as suas organizações extintas; lideres políticos e sindicais voltaram aos palanques, ressuscitando as comemorações do 1 de Maio, Dia Internacional do Trabalho; jornais de esquerda voltaram a circular nas bancas de revistas.
Assustados com as manifestações, silenciadas por anos através de uma aguda repressão, inconformados com o fim do regime instaurado em 1964, partes conservadoras do velho sistema passaram a promover atos de sabotagem no processo de abertura, radicalizando suas ações através de atentados terroristas com bombas explodindo bancas de revistas, redação de jornais de esquerda, sede de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ou locais onde ocorresse apresentação de espetáculos de protesto. O terrorismo promovido pela ala radical do regime militar tinha como objetivos a desestabilização do processo de abertura e evitar a entrega do poder aos civis.
As comemorações do 1 de Maio, proibidas desde 1968, eclodiram por todo o país a partir de 1979, sendo pontuadas com grandes espetáculos reunindo os maiores nomes da Música Popular Brasileira da época. Em 1981, na noite de 30 de abril, um desses grandes shows realizava-se nos palcos do Riocentro, no Rio de Janeiro, quando uma bomba explodiu no estacionamento de carros local. Meia hora depois, uma segunda bomba explodia na casa de força quando a cantora Elba Ramalho fazia a sua apresentação. Além de ícones da MPB, como Chico Buarque, Gal Costa, Gonzaguinha, Zizi Possi e muitos outros, uma platéia de vinte mil pessoas assistia ao espetáculo. A bomba, explodida antes da hora, matou o sargento Guilherme Pereira do Rosário e feriu gravemente o capitão Wilson Machado, portadores dos explosivos. A fatalidade que matou os próprios algozes, evitou que se fizesse mártires dentro da MPB, desmascarando os serviços de inteligência da ditadura militar, encerrando de vez a fase das bombas sobre a abertura. A empreitada terrorista entrou para a história como o Atentado do Riocentro, sem que os seus mentores e envolvidos jamais fossem punidos.


14 comentários:

  1. Toda forma de repressão deve ser banida!
    Toda forma radical de agir deve ser revista!
    Em todo tipo de agrupamento tem os bons e os ruins!
    Podemos exemplificar dentro das próprias famílias, pois embora os pais, aparentemente, criem seus filhos da mesma forma, poderão ter decepções com suas formas de agir. Os criminosos não estão só dentro de favelas, estão por toda parte.
    Enfim, viva a democracia! Que ela realmente seja o norte deste País!

    Celso

    ResponderExcluir
  2. "Como beber dessa bebida amarga;
    Tragar a dor e engolir a labuta?
    Mesmo calada a boca resta o peito.
    Silêncio na cidade não se escuta.
    De que me vale ser filho da santa?!
    Melhor seria ser filho da outra;
    Outra realidade menos morta;
    Tanta mentira, tanta força bruta.

    Como é difícil acordar calado
    Se na calada da noite eu me dano.
    Quero lançar um grito desumano,
    Que é uma maneira de ser escutado.
    Esse silêncio todo me atordoa...
    Atordoado eu permaneço atento
    Na arquibancada, prá a qualquer momento
    Ver emergir o monstro da lagoa.

    De muito gorda a porca já não anda.
    De muito usada a faca já não corta.
    Como é difícil, Pai, abrir a porta...
    Essa palavra presa na garganta...
    Esse pileque homérico no mundo.
    De que adianta ter boa vontade?
    Mesmo calado o peito resta a cuca
    Dos bêbados do centro da cidade.

    Talvez o mundo não seja pequeno,
    Nem seja a vida um fato consumado.
    Quero inventar o meu próprio pecado.
    Quero morrer do meu próprio veneno.
    Quero perder de vez tua cabeça!
    Minha cabeça perder teu juízo.
    Quero cheirar fumaça de óleo diesel.
    Me embriagar até que alguém me esqueça.

    Pai! Afasta de mim esse cálice
    Pai! Afasta de mim esse cálice
    Pai! Afasta de mim esse cálice
    De vinho tinto de sangue..."

    ResponderExcluir
  3. Isso é História!!!

    De verdade ... muito obrigada por se proporem a divulgar este vídeo, é incrível!

    ResponderExcluir
  4. O nosso país é cheio de erros e, talvez, o maior de todos eles, tenha sido a famigerada ANISTIA AMPLA E IRRESTRITA. Ela, articulada pela direita reacionária, anistiou torturadores e torturados, como se todos fossem vítimas da ditadura. Enquanto o mundo todo lutava por justiça e pelos direitos humanos, aqui, na nossa infeliz e obscura terrinha, a gente brincava de "vamos fazer as pazes". Triste história temos para contar para nossos netos...

    ResponderExcluir
  5. Antônio Arruda (82 anos- ex-militante do PCdoB)2 de maio de 2011 às 07:17

    Não podemos nos esquecer que Barra Mansa e o famigerado 22º BIMtz também tiveram participação ativa neste passado violento de nosssa cidade. E, ainda hoje, suas instalações continuam lá, imponentes, preservadas por esse governo municipal que não tem o menor respeito pela dor dos que perderem entes queridos em torturas feitas naquele local. Muitos civis que trabalharam para a ditadura como X-9, continuam circulando livremente em nossa cidade. Alguns, chegam, inclusive a ocupar cargos imporantes em nossa sociedade. É uma vergonha e uma falta de respeito com aqueles que realmente lutaram para que hoje tívessemos uma democracia. Os senhores José Renato e Roosevelt Brasil, talvez por não terem vivido nos períodos sombrios da ditadura, não saibam o quanto dói ver aqueles prédios de pé. Vamos colocar tudo aquilo no chão e, no local, construir um belo parque com teatros, espaços para shows, exposições de artesanatos. Não o que é feito hoje pelo Célio para ganhar diheiro, mas sim para devolver ao povo um espaço onde se possa respirar liberdade, a mesma liberdade que nos foi negada nos anos de ferro do govreno militar.

    ResponderExcluir
  6. Prezado Sr. Antonio Arruda,

    É preciso entender que não podemos, nem devemos, apagar nossa história, seja ela qual for.

    O que aconteceu no Brasil, durante o período de ditadura, especialmente, durante os chamados "anos de chumbo", foi muito triste! Mas, faz parte da nossa história!

    Só para exemplificar, na Alemanha, onde aconteceram uma das maiores barbáries de todo século XX, estão preservados dezenas de campos de concentração, onde milhares e milhares de judeus foram mortos de todas as formas que se possa imaginar. Esses campos, inclusive, são visitados por turistas. Eles fizeram parte da nossa história.

    http://www.beth-shalom.com.br/especiais/campos_de_concentracao/index.php

    Mas, voltando às instalações da Unidade do Exército, acho importante preservá-las. Agora, mais importante seria dar uma boa destinação àquelas instalações, com o viso de proporcionar à nossa cidade, tão combalida, um pouco mais de qualidade de vida.

    Abs.

    ResponderExcluir
  7. Concordo com o Rubens. Seria o mesmo que mandar destruir o Riocentro por causa do atentado. O que temos que fazer em Barra Mansa com que o parque da cidade é torná-lo um grande centro cultural, referência no Sul do Estado!

    Roseli

    ResponderExcluir
  8. Amigos Rubens e Sueli,

    Não os conheço, mas vejo que vocês têm a mesma preocupaçã minha, ou seja, dar um destino mais agradável a este mausoléu (no sentido prejorativo, é claro!) que é o quartel. Só que a minha revolta, na verdade, não é contra os prédios, mas sim contra estes crápulas que serviram à ditadura entregando companheiros e, hoje, desfilam pela nossa cidade como honrados cidadâos. E vocês queiram, ou não, o quartel sobrevive como uma homenagem a estes traidores do povo. Quanto aos campos de concentração, eles foram preservados para que todos se lembrem do que aconteceu ali, mas também se lembrem de os Nazistas não foram anistiados, mas sim condenados pelo Tribunal de Nuremberg. Já o Riocentro, continuou sendo uma espaço alternativo, onde o povo tem livre acesso e as mais expressivas manifestações culturais acontecem lá, enquanto que o quartel só serve para interesses partriculares e escusos. Não tem como comparar!
    Um forte abraço, valeu pela troca de ideias.

    ResponderExcluir
  9. Os "militares torturadores" (coloquei entre aspas porque, em geral, os casos de tortura envolveram policiais civis e federais, não militares das forças armadas) não sofreram nada, mas alguns militares e civis inocentes foram presos, torturados e executados pelos militantes de esquerda. Sem contar que um número considerável de militantes de esquerda foram mortos em "justiçamentos" por seus próprios pares.

    ResponderExcluir
  10. Meu caro anônimo,

    Pela sua defesa, acredito que seja um militar ou ex-militar. Quando me refiro aos militares como responsáveis pelas torturas, lembro que foram eles que deram o golpe, que foram eles liberam os "cães reacionários". Quando falo em militar torturador, falo em meu nome, pois quem me torturou foi um tenente (de patentes eu conheço bem) e ele estav em serviço. Portanto, meu caro anônimo não tente defender o indefensável, não tente justificar o injustificável. Também acho que o passado deva ficar para trás, mas a verdade deve sempre prevalecer.

    ResponderExcluir
  11. Amigo Antonio Arruda, eu nasci no início da década de 70, não me lembro muito deste período, mas houvi muito meus pais comentando entre os dentes é claro, pois viviam com medo de serem ouvidos e delatados ao regime. Até hoje eles sofrem assombrados pelos fantasmas deste passado tão inglório de nossa nação.
    Concordo plenamente com seus argumentos, nosso povo é muito omisso, é pacato, não tem interece pela própria história, principalmente os cidadãos de nossa cidade. Tem que vir abaixo sim. VIVA A REVOLUÇÂO, VIVA A DEMOCRACIA!

    ResponderExcluir
  12. Rubens e Ântonio Arruda é um prazer tê-los participando em nosso blog,

    ResponderExcluir
  13. Prezado Sr. Antônio Arruda,

    Não sou militar, nem ex-militar, nem mesmo parente de militar, é apenas uma questão de precisão: referir-se aos torturadores como "militares torturadores" dá a impressão que os executores de tortura foram somente os militares, limpando a barra dos agentes, investigadores, delegados, carcereiros, etc., que eram civis.

    E, claro, aproveitei para lembrar que alguns militantes da esquerda também praticaram tais crimes. Cometeram também alguns atos de terrorismo, roubos a mão armada, sequestros, etc., mas isso não diz respeito ao artigo em questão.

    ResponderExcluir
  14. acho que muitos devem se perguntar se valeu a pena tanto sacrificio para se ver o que está aí , este bando de rapina que se aproveitou da tão sonhada democracia ,e sem esqucer os erros dos militares , não podemos amenizar também os erros dos militantes de esquerda, pois isto seria justificar o injustificável , ficaria na mesma situação do assassino que justifica sua atitude pois a vítima reagiu.Devemos ser coerentes.

    ResponderExcluir