sábado, 2 de abril de 2011

As mulheres negras e a impunidade de um canalha

Certa vez, em conversa com uma amiga, ela me relatava em cores vivas exemplos de preconceitos que atingem a mulher negra. 

Por Wevergton Brito Lima*
De classe média alta, executiva, casada com um professor universitário branco, quando se dirige ao setor reservado aos clientes exclusivos de um banco privado é comum aparecer um funcionário com a advertência de que aquele espaço é para clientes especiais. Em uma dessas ocasiões, ao mostrar o cartão que provava sua condição de cliente especial, ouviu que “não pode ser cartão de terceiros”.
Por ocasião de sua lua de mel na Bahia, ao voltar da praia para o quarto em que estava hospedada (o marido não quis descer naquela manhã) foi parada por um segurança que a acusou de ser “garota de programa”. Ao contrário de outras mulheres negras que sofrem esse tipo de agressão e reagem à altura, minha amiga tem uma reação de pânico. Começa a tremer e sente uma imensa fragilidade.
Esses dois exemplos são até suaves para as pequenas e grandes humilhações cotidianas que sofrem as mulheres negras, atingindo sua auto-estima, e muitas vezes provocando depressão, angústia, síndrome do pânico, etc.
Para essas mulheres, o todo poderoso diretor de Jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, que afirma não existir racismo no Brasil, chega a ser motivo de chacota, tão distante da realidade são suas observações que acabam, queira ou não Ali Kamel, servindo para perpetuar o racismo, pois se ele não existe entre nós, então não existe motivo para combatê-lo, já que não se combate o que não existe.
Mesmo sem existir racismo no Brasil, pelo menos de acordo com Ali Kamel, assistimos declarações como as do Senador do DEM, Demóstenes Torres, que por ocasião da discussão sobre cotas no senado, afirmou que nas senzalas não havia estupro, havia, isso sim, “sexo consensual” entre senhores e escravas. Ou seja, para o senador “democrata” a escrava era perfeitamente livre para se negar a deitar com o seu “dono”!
No entanto, o escondido, hipócrita e sujo racismo brasileiro veio à tona de forma nua e crua.
O deputado federal Jair Bolsonaro (PP) vem a público afirmar que seus filhos jamais namorariam uma negra, pois “foram bem educados”. Ou seja, na doentia visão de Jair Bolsonaro, as negras são seres inferiores e degeneradas que só mereceriam a atenção de pessoas que não tivessem acesso a uma educação que os prevenisse contra essa convivência perniciosa.
Assim que, estarrecido, li e assisti as declarações de Jair Bolsonaro, pensei em como estavam se sentindo as milhões de mulheres negras, as milhões de mães de família, atingidas em sua dignidade. Pensei na própria nação brasileira, também ferida em sua honra, pois milhões de brasileiras que constroem e sustentam a nação foram cruelmente ofendidas. Busquei em minha memória uma palavra que descrevesse uma pessoa que, em pleno século 21, pensa desta maneira. Teria que, necessariamente, ser uma pessoa infame, vil, abjeta, velhaca e desprezível. Pois bem, meus amigos e amigas, existe uma palavra que, de acordo com o dicionário, contém todos esses significados: canalha. Não posso me furtar, portanto, a dizer a verdade: Jair Bolsonaro é um canalha, pois um racista pode até não assaltar o próximo, no sentido de ser ladrão, mas sem dúvida merece cada um dos epítetos que o dicionário atribui à palavra canalha.
Agora nos resta agregar outro adjetivo ao deputado federal Jair Bolsonaro, que é o de criminoso. O racismo é crime previsto em lei e não existe imunidade parlamentar que permita a qualquer um ofender a honra de toda uma nação.
São necessárias ações em todos os campos, tanto no Congresso quanto na justiça. A impunidade, neste caso, será tão grave e gritante, quanto a própria vil agressão.

*Wevergton Brito Lima é jornalista

3 comentários:

  1. “O bom e o ruim”

    Em qualquer segmento da sociedade há o bom e o ruim. No meio militar, inclusive, do qual origino e tenho muito orgulho, há o bom e o ruim. Tantos militares deste País deixaram seus nomes na história, como o próprio Vargas, que foi militar, para depois seguir a advocacia, Luis Carlos Prestes, entre tantos outros.
    Infelizmente, esse Senhor, que é Deputado Federal – no Congresso há, também, os bons e ruins – era militar, mas, por sua própria trajetória e, mais, quase sempre, por suas próprias palavras, revela sua natureza, sua índole, muito bem retratada no artigo do jornalista Wevergton Brito Lima!
    Um de seus filhos, numa entrevista ao site “G1” disse que “o que a família Bolsonaro faz nada mais é do que valorizar conceitos e valores da família, valores éticos, valores morais e certamente isso incomoda muita gente”, afirmou Flávio Bolsonaro.
    Certamente, a formação que lhe foi dada por seu pai retrata uma deturpação do que sejam valorais morais e éticos. Ora, ser negro é não ter valor moral e ético? Ser homossexual é não ter valor moral e ético?
    Não resta dúvida de que se fosse perguntado ao Deputado o que é bom e o que é ruim, a resposta seria fácil deduzir: ser branco é ser bom, ser negro é ser ruim!
    Enalteço o artigo de Wevergton por sua coragem e pelo adjetivo indicado, que certamente cai como uma luva ao “ilustre” Deputado!
    Parabéns, uma vez mais ao blog, pela postagem!
    Mas, uma coisa é certa, Amigos: OS BONS SÃO A MAIORIA!

    Abs.

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  2. VALEU CAMARADA WUERVERTON BRILHANTE CONTRIBUIÇAO ABAIXO O PRECONCEITO CONTINUE PRESTIGIANDO NOSSO BLOG VALEU ABS ROBSON LOPES

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  3. Ebison Dertrich,

    Ser militar não é desonroso, muito pelo contrário, as forças armadas tem nos dado muitos motivos de orgulho. Mas chamar esse facista de militar é uma vergonha para as forcas armadas. Ele deu uma entrevista hoje na UOL, onde não só reafirma o que já havia dito, como acrescenta um monte de barbaridade.
    Abaixo Bolsonaro.

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